Tomato soup.

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Para dizer que você conhece a Índia pegue um trem, preferência segunda classe.

A minha viagem começou na magnificente Jalandhar Train Station as 7h da manhã. Por dica de um amigo indiano chegamos 40 minutos antes do nosso trem.  E como explicar para a Sérvia que antes cedo do que tarde? Pontualidade, pontualidade. “Na Índia?”

Primeiro passo, decifrar os bilhetes e descobrir nossa plataforma. O mendigo com apenas uma perna sacoleja moedinhas em uma lata enferrujada enquanto  anuncia a todos os passantes algo em punjab (lingua dessa região). Famílias, crianças, gente em trajes tradicionais ou mordermos por toda a parte.

Informação.

“É aqui.”

Fila masculina e feminina. Como em todos os lugares, por aqui, a separação entre feminino e masculino é respeitada, a fila não. Pessoas se apertam entre as divisórias de metal e ao redor. A europeia sérvia ainda não entendeu que a lei é do mais forte. “Empurra o povo ai e pergunta se não saímos daqui hoje. Quer que eu faça isso?” Pronto após alguns minutos de sufoco descobrimos a plataforma. Mas ainda tínhamos 20 minutos.

Enquanto esperamos, eu, a Sérvia Tamara, e mais uma loirinha de olhos verdes Khrystyna, da Ucrânia, contamos as ultimas  fofocas. Todo mundo na estação nos observa, somos a grande atração do local. Sim, três pessoas brancas juntas são um acontecimento por aqui.

Entre os trilhos do trem, ratos passeiam, saindo de um buraco para entrar em outro logo a frente. Algo amarelo forma um esparramado monte de cocô. O cheiro é forte mas o vendedor de samosa assim como os compradores não parecem se incomodar. Embrulhadas no papel jornal e servidas com ketchup os quitutes não parecem maus.

Alguém oferece amendoim e salgadinhos indianos. Uma mãe lava o traseiro do filho no bebedouro. Os ratos e montes de cocô roubam minha atenção. Decido tirar os óculos. Até que ser míope têm suas vantagens.

Um trem chega mas não é o nosso. Pessoas saltam  de dentro e para dentro com o veiculo em movimento. O próximo a parar é o nosso, mas e os lugares? Cada pessoa a qual perguntamos nos manda para uma direção. Sabendo ou não, entendendo ou não a sua pergunta, as pessoas sempre vão te dar alguma informação não importa o quão errada esta seja.

Melhor entrar no trem e nos movermos dentro dos vagões antes que este comece a andar. Por fim achamos os assentos ocupados por uma família, pedimos educadamente e mostramos os bilhetes. Nossos lugares são cedidos sem qualquer problema.

Mal a locomotiva começa a funcionar e ouço uma voz que rapidamente se aproxima “Tooooomaaaato soup!” e não para por ai, com intervalos que vão diminuindo a cada estação mendigos e vendedores se revezam nos vagões. É sopa, chai, samosa, salgadinho. “Pani, Pani, cold driiink”. Um homem mostrando algumas fotos faz um discurso interminável e depois sacoleja sua caixa de moedas em frente a nossas faces enquanto grita algo em hindi. Uma criança chora, outra grita.

Uma família a frente parece contente, mãe e filhos tiram fotos uns dos outros com o celular, brincam com chaveirinhos em formato de camera fotográfica. Compram salgadinhos, água. Um homem aranha de borracha é lançado na janela para deleite das crianças. Eles ficam com dois bonequinhos.

Outro homem aranha, agora em nossa janela. O vendedor de bolas de borracha transparente recheadas de purpurina e água tenta nos convencer a ficar com algo.

E porque não? O chai está de volta.

O vendedor de chaveiros pendura a mercadoria sobre nós.

O homem das samosas maneja o grande cesto com destreza, mas ” No, thank you.”

Homens vestidos de mulher pedem dinheiro estalando os dedos, outro canta, outro cutuca. Cada um com sua própria técnica.

A caminho de Delhi a cena muda rapidamente.

Olho pela janela e vejo alguém agaixado fazendo suas necessidades, com a maior naturalidade, o jorro amarelo aponta na direção do trem.

Sinto vontade de ir ao banheiro e descubro a origem do cheiro forte. O sanitário é composto por uma latrina no chão aonde os dejetos vão parar diretamente na linha do trem. A sérvia e a ucrâniana me informam que no país dela é o mesmo e que até mesmo os aviões jogam a caca no ar. “Eca!!!”

Nosso destino se aproxima. Delhi e depois Taji Mahal lugares incríveis mas isso é historia para outro post.

1 Comment (+add yours?)

  1. Gilene Dorneles (@gilenedfs)
    Mar 11, 2013 @ 23:49:38

    parabens!

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