Jaipur parte IV: Holi

Após ser atacada por uma orda de indianos.

Após ser atacada por uma orda de indianos.

Um frenesi colorido toma conta da cidade. Por onde passamos vemos pessoas pintadas por toda a parte, um homem cor de rosa sentado em uma bicicleta passa por nós e sorri, um outro tem o rosto prateado e manchas de varias cores pelo corpo, crianças jogam água e tinta umas nas outras.

Descemos do auto riquixá    em direção a uma praça onde vários turistas e alguns locais celebram o holli. Em frente a um enorme portal de pedra rosa somos atacados por uma horda de indianos armados de pó colorido.

“Happy Holli” e um banho de pó rosa choque sobre minha cabeça. Com uma mão recebo um abraço enquanto que  com a outra vigio a decência do mesmo. Azul, amarelo, vermelho, lilás, verde e Inder finalmente vem ao meu resgate.  A Índia ainda é um pais conservador e não é todo o dia que os homens daqui têm a oportunidade de chegar tão próximos do sexo oposto.  Seguimos nosso caminho .

Na entrada do espaço cercado por panos brancos somos recebidos por um lindo rangoli de flores decorando o chão, os portões abertos convidam quem quiser a entrar. No cetro da arena uma mulher, vestindo uma longa saia vermelha bordada com canutilhos, pedrarias e espelhos,  véu negro com moedinhas douradas nas bordas,  rodopia ao som da flauta e dos instrumentos de percussão. Turistas coloridos acompanham a performance.

Em uma mesa ao canto, doces e potes com diversas cores. Inder enche suas enormes mãos, prende minha cabeça debaixo do braço e esfrega  pó verde em meu rosto no melhor estilo Chereck  que não sabe brincar com meninas. Protesto, mas não adianta, melhor entrar na brincadeira.

Tâmara, Inder e eu.

Tâmara, Inder e eu.

Todo mundo atira cores em todo mundo, a musica que agora toca é eletrônica e todos dançam. Para mim aquilo tudo me parece mais um grande carnaval, lanço um jorro cor de rosa na cabeça de Tâmara.  Uma menininha loira nos ombros do pai bate palmas, um menininho indiano enche as mãozinhas de vermelho e atira para o ar.

Uma loira vestindo calça saruel da um grito e abraça Tâmara, ambas começam a conversar em sévio. Por obra do destino Tâmara encontra a amiga que está trabalhando em Munbai e que havia chegado em Jaipur aquela manhã com mais alguns amigos, todos dos balcãos.

Um garoto do grupo segura uma garrafa  contendo um liquido verde até a metade.

– Bang.

–  I drank  haf a litter  and nothing hapens.

_  Are you crazy? Interpela Tâmara.

– Nothing happens. Responde a amiga platinada.

– How long did you take it?

– Around 20 min.

Tâmara e eu nos entreolhamos com um sorriso no rosto.

– Don’t worry, baby, It gonna come.

Algum tempo depois decidimos ir embora, precisávamos pegar um ônibus, viajar 14h e se tudo desse certo eu e Tâmara estaríamos lindas e radiantes na universidade aonde trabalhamos prontas para lecionar as nove do dia seguinte.

No caminho de volta para o hotel me despeço de Jaipur e seus palácios . Dou uma ultima olhada nos estabelecimentos comerciais, casas e portais construídos em pedra rosa. A beleza da cidade  é única e me parte o coração deixar tanto encantamento para trás.

– I don’t  wanna go home. I want stay here.

Voltamos ao hotel. Por uma pequena taxa o dono permite que usemos o banheiro de um dos quartos. Por sorte, o protetor solar que passei em grandes quantidades impede que a tinta se impregne em meus braços e rosto, mas mesmo assim, uma linha próxima ao cabelo, pontos verdes nas minhas orelhas, uma enorme mancha cor de rosa em meu peito e costas teimam em não sair.  Deixamos o banheiro em condições miseráveis, pagamos o hotel e partimos para a rodoviária.

Um homem azul e ver cambaleado molemente com os olhos semi fechados atravessa nossa visão. Enquanto esperamos nosso ônibus, ele tenta subir no alto de um dos veículos estacionados através de uma escada lateral, mas suas pernas e braços não parecem colaborar com seu esforço, com persistência, o sujeito, por fim, empoleira lá em cima e se deixa cair sobre o teto.  Um funcionário do local, vendo-o,  sobe as mesmas escadas e tenta remover o homem, mas esse parece todo feito de areia ensacada e preguiça.

Tâmara e eu nos entreolhamos e rimos.  Nosso ônibus chega.

Vou ouvindo musica enquanto observo  mais uma vez a paisagem desértica e pedregosa.  3 h depois de deixarmos Jaipur Tâmara recebe uma ligação:  O menino do liquido verde havia sido hospitalizado em meio a delírios de que estava morrendo, enquanto a amiga loira ainda se encontrava petrificada. Tâmara, eu e Inder nos entreolhamos e rimos.

Fomos deixados em algum ponto de Delhi por volta das 11h. Pegamos o metrô e atingimos a rodoviária por volta da meia noite. Inder conversa com o que me parece, algum cambista, e anuncia que conseguiu para mim e Tâmara um ônibus leito, ele ficaria em Delhi para resolver alguns negócios da empresa do pai.  Quando adentro o ônibus leito e sou apresentada a meu lugar, me surpreendo. Leito aqui não quer dizer uma poltrona mais confortável que se inclina mais que as outras, mas sim, uma espécie de beliche separada do resto do ônibus por uma cortina. Eu e Tâmara nos olhamos, rimos, subimos as escadas e nos instalamos em nosso “lugar cama”.   Melhor dormir e esperar que o ônibus chegue a universidade aonde antes do horário das 9 da manhã.

 

Eu e Tâmara em nossos lugares cama.

Eu e Tâmara em nossos lugares cama.