Frase da semana:
“You christian people are very funny.”
Em uma conversa casul com um hindu.

Quote

Dor de barriga

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BRAT: Bana Rice and Apples

Acho que não conheço nenhum indiano ou alguém que esteja morando na Índia que nunca tenha sido acometido por algum mal do estomago.

Comida contaminada.

Água Contaminada

Food Poisoning, seja lá o que isso for.

Excessivo consumo de pimentas e temperos aos quais não estamos acostumados. (E devo frisar aqui, que essa parte muitas vezes não é bem uma opção)

Meu sistema digestivo, pobrezinho, sofreu  muito esse ano.

No mês de julho os termômetros chegaram a 48oC (e eu nem sabia que seres humanos poderiam sobreviver a essa temperatura).

Com as monções, a umidade chegou a níveis de sauna.

Como eu me senti no verão.

Como eu me senti no verão.

Entre um estágio e outro e correndo atrás da papelada para extensão do meu visto, estava dividindo um quarto com uma menina, que faz parte da mesma organização estudantil que eu, em um PG (played guest house). O quarto não tinha ar condicionado, muita limpeza (bem, ao menos para meus padrões) ou o bom habito por parte da minha amiga de tomar banhos diários.

A Família Punjabi era muito simpática, e eu fazia toda as minhas refeições na casa. Pela manhã, primeiro chai, depois parathas companhadas de iogurte, picles de manga, ovos mexidos com tomate, cebola e especiarias tudo pingando olho e manteiga.

No almoço chapatis ou arroz e o que agente pode chamar, para facilitar (leia o ultimo post) algum curry vegetariano. No norte da Índia o comum nas refeições é comer algum pão chato mas como minha amiga, Saumya é de Assam, um estado  próximo a China, sempre pedíamos arroz.

Jantar? Tão pesado quanto as outras refeições. E não esqueçamos do nosso amigo chai servido  a tarde com algum biscoito, samosa ou salgadinho e em todos os momentos e horários possíveis. No norte da índia qualquer hora é o hora do chai.

Chai e Samosa <3

Chai e Samosa ❤

A água tinha um gosto meio estranho, mas nunca reclamei até o dia, fatídico, depois de uma chuva forte, aonde vim a descobrir que a água vinha de uma fonte subterrânea não tratada do templo ao lado.

Legal não?

E como eu descobri isso você já deva imaginar.

Na quinta feira vim a Amitzar resolver a papelada do visto e depois voltando a Jalandhar fui me encontrar com Tamara que tinha passado um mês na Servia. Incrivelmente e apesar de não ter tido tempo para comer o dia todo não senti fome.

Chapati

Chapati

A noite, também não quis comer. Aunty (que é a maneira respeitosa de chamar qualquer mulher mais velha e dona do seu PG) ficou chateada, mas não dava o chapati e o curry de batas não desciam.

Passei uma noite, digamos que, difícil. E a tortura se prolongou ao dia seguinte. Não estava nada bem. Me sentia fraca e a temperatura desumana me deixava ainda pior. Minha “amiga” não deu muita bola e foi para a faculdade prometendo ir comigo a algum médico depois da aula.

Aunty veio ao meu socorro, mas para ser sincera preferia morrer em paz.

A maioria dos indianos que não fala inglês gosta de pensar que fala ou que ao menos entende a língua. Aunty e seu marido, o senhor Uncle, são dois desses casos.

Ela dizia em punjabi qualquer coisa que em sua imaginação eu deveria entender.  Me trouxe dahi (iogurte indiano) com limão, sal e pimenta do reino e ao meu pedido batatas cozidas.  Sentou na cama e gesticulava, conversava e aguardava uma resposta. Como nos filmes eu gesticulava e pronunciava palavras  de maneira lenta e espaçada como resposta a perguntas que eu não havia entendido.

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Quando Saumya voltou já eram 3 da tarde, ela estava muito cansada para  ir comigo a qualquer lugar, me pediu uma hora.

Três horas depois, ela resolveu se mexer mas o medico local não estava mais atendendo. Irritada, ligo para um amigo que vem me encontrar as 9h da noite.

Aqui é tabu ter amizade ou mesmo ficar de papo com qualquer pessoa do sexo oposto.

Na maioria dos PGs, homens que não são da família, não entram.

É  regra estar em casa antes das 10h.

Por tanto, descer as escadas e entrar no carro de um homem as nove da noite, mesmo que você esteja doente, fraca, desidratada e precisando de alguém que fale a mesma língua que você e tenha boa vontade é tipo dar um tapa na cara da sociedade e depois sambar de mini saia na frente dela.  Enfim, de saco cheio de Auntys que pensam que falam Inglês (ou que pensam que eu falo punjabi) e amigas inúteis, não dei a menor bola.

Foi quando eu descobri o significado de BRAT. Meu amigo percebeu que eu estava com febre, me comprou bananas, Limca (uma soda indiana com gengibre), uma espécie de torrada doce e água.  Fomos tomar chá e ele me explicou que eu deveria comer khichuri  (arroz com lentilhas amarelas), dahi,  tomar Limca e bastante água e ir no medico tomar uma vacina que cortava a infecção. Saumya que não havia me ligado o dia todo me chamou no celular três vezes na meia hora que estive fora.

 khichuri, que eu fiz, com Dahi. O da Aunt é bem mais gostoso e tem uma cara muito melhor!!!

khichuri, que eu fiz, com Dahi. O da Aunt é bem mais gostoso e tem uma cara muito melhor!!!

Quando cheguei em casa a família estava brava e assistindo televisão.

Acho que se não fosse estrangeira Aunty teria me dado uma surra de vara.

Para tentar quebrar o gelo inventei que haviam mais pessoas conosco e comentei que ELES me compraram bananas e Limca e tudo mais. Resultado? Aunty ficou ainda mais brava. Alias ela estava brava comigo desde cedo pois não aceitei a Limca que ela ofereceu, não quis comer o khichuri  que ela sugeriu e nem aceitei ser levada ao farmacêutico local. E agora chegava em casa com uma sacola cheia de comidas e conselhos que rejeitei dela para aceitar, como assim?, de um homem.

Nas conversas de maluco que tivemos  durante o dia, dizia que estava esperando Saumya, repetia “doente” e falava que era melhor descansar.

_ I’m sorry I couldn’t understand nothing you told me early. I’m very sorry. I can not understand punjabi.

Samya traduziu. Mas não adiantou muito, ela ainda me olhava com cara de desconfiada.

– Say something  in Portuguese.  Sujeriu Saumya

– Tive um dia horrível hoje, ainda estou passando mal, minha amiga é uma egoísta que não ta nem ai se eu vou morrer de desidratação e vocês ainda ficam me enchendo o saco fazendo de conta que falam inglês.

Saumya pergunta em punjabi se Aunty entendeu algo.  Ainda desconfiada da minha incapacidade de entender punjabi  Aunty aceita a nossa argumentação e pergunta o que foi que eu disse.

_ I told that I am very sorry for do not understand what she told. I am learning.

ADENDO:

O inglês é uma das línguas oficiais da índia, mas a verdade é que só as classes dominantes, e que tiveram aceso a uma boa educação, sabem. Pessoas de classe media em geral falam  inglês, alguns só um pouco, os mais velhos em geral não dominam o idioma. As pessoas mais pobrebres mal falam Híndi algumas vezes só conhecem o dialeto local.

A língua inglesa é a língua do ultimo colonizador ou melhor como eles chamam aqui: ruler ou governante e portanto um sinal de status, ela também determina o tipo de emprego que você vai conseguir por aqui. Por todos esses motivos incluindo ai uma sociedade  segmentada  em castas e tudo mais as pessoas aqui tem vergonha de admitir que não sabem inglês e muitas vezes não admitem nem para si mesmas. Esse é o caso de Aunt and Uncle. Ele fala pouquíssimo inglês e muito provavelmente não entendia a maior parte das coisas que eu dizia mas fazia questão de conversar comigo e com a minha amiga indiana em inglês e afirmava que a esposa, que não sabe dizer oi em inglês, conseguia entender o idioma muito bem. Ambos não estavam mentindo para mim, eles estavam mentindo para si mesmos. Para meu desespero eles realmente acreditavam que falavam ou entendiam a língua e se irritavam comigo quando a comunicação (o que quase sempre acontecia) falhava.

Bom ao menos na região aonde moro, Punjab, é assim.

E no final queria deixar para vocês um vídeo com os 20 últimos punjabi Hits: